Estudo diz que amendoim é capaz de produzir óleo mais saudável que azeite O Amedoim tem altas concentrações de proteína e vitamina E. Por isso, especialistas internacionais reunidos em Brasília acreditam que a leguminosa pode se tornar uma fonte de alimento mais importante que a soja.
Nos próximos 25 anos, o amendoim pode deixar de ser visto como um mero tira-gosto e se tornar um dos alimentos mais importantes do mundo. Pelo menos é o que acreditam cerca de 100 especialistas de mais de 10 países que estiveram reunidos até ontem, em Brasília, na 5ª Conferência Internacional da Comunidade Científica de Amendoim, promovida pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Embrapa/Cenargen). Em três dias de encontro, eles apresentaram e debateram pesquisas de melhoramento das variedades de um dos petiscos mais consumidos no planeta.
Genuinamente brasileiro, o amendoim é uma das leguminosas produtoras de grãos mais plantadas no mundo. Devido ao seu alto conteúdo de proteína e óleos insaturados, tem papel fundamental na alimentação dos povos de países da América Latina, da África e da Ásia. Além disso, cumpre um importante papel social, garantindo a segurança nutricional e a sustentabilidade da agricultura em áreas áridas e semiáridas de diversas nações, inclusive o Brasil. Na África, por exemplo, ajuda a combater a desnutrição de crianças(leia abaixo).
O que faz os especialistas acreditarem que o grão pode adquirir um papel mais central na alimentação mundial são algumas de suas características. A qualidade do óleo do amendoim é superior ao do azeite de oliva, o que pode ajudar na prevenção de doenças cardíacas. Além disso, os grãos apresentam grandes concentrações de vitamina E — um antioxidante que previne câncer, diabetes e doenças autoimunes — e de proteína, podendo substituir a carne em países onde há escassez desse alimento.
Bom para a saúde
“Não é à toa que o mercado internacional se interessa tanto por esse grão. Ele pode se tornar mais importante, em termos alimentares, do que a soja”, aposta a pesquisadora da Embrapa/Cenargen Soraya Bertioli, uma das coordenadoras da conferência. Segundo Howard Valentine, diretor executivo do American Peanut Council (APC), estudos clínicos feitos nos Estados Unidos mostram que pacientes que consomem uma porção do grão por dia têm menor chance de desenvolver males como o diabetes. “Em 25 anos, será necessário que o mundo dobre a produção de amendoim”, acredita Valentine.
Para que o objetivo proposto pelo especialista americano seja alcançado, será fundamental investir em pesquisas de biotecnologia e genômica para gerar variedades mais produtivas, nutritivas e resistentes, um dos principais focos do congresso realizado em Brasília. Essas ferramentas, segundo Soraya Bertioli, são determinantes para tornar o cultivo mais competitivo. “O amendoim pode contribuir significativamente para sustentar o aumento da demanda de produtividade por hectare, sem ampliar a fronteira agrícola”, afirma. Em outras palavras, produzir mais alimentos no mesmo espaço usado pela agricultura hoje.
Melhoramento genético
Nesse aspecto, o Brasil ocupa um papel de destaque. Os cientistas do país buscam o melhoramento genético dessas leguminosas estudando as variantes silvestres, que, apesar de não produzirem grãos comestíveis, são mais resistentes. Para chegar ao cultivar ideal, os pesquisadores cruzam duas espécies silvestres. Delas, nasce um híbrido, que é, por sua vez, cruzado com uma espécie comercial. A partir daí, é feita uma análise das características repassadas. Se houver sucesso — ou seja, se o resultado for uma planta mais produtiva ou resistente, por exemplo —, o resultado é distribuído para pesquisadores de outros países, como Índia e Estados Unidos, que ampliam os testes.
Entre os resultados desses estudos está o sucesso do cultivo de amendoim no Nordeste. “Conseguimos desenvolver plantas com alta resistência à seca e à doença foliar (manchas escuras nas folhas que não deixam a planta se desenvolver)”, comemora a bióloga Adriana Regina Custódio, que faz parte do grupo de pesquisa em amendoim da Embrapa/Cenargen. O melhoramento genético também possibilitou criar uma variação que deixa o óleo produzido a partir do grão com qualidade superior à do azeite de oliva. “O grupo do Instituto de Agricultura de Campinas (IAC) conseguiu identificar uma mutação natural de algumas plantas e acoplá-la ao melhoramento genético do amendoim”, explica Soraya.
Atualmente, uma nova estratégia está sendo avaliada pelos cientistas. “Queremos ampliar a base genética da cultura de amendoim, que é bastante estreita, por meio do cruzamento com parentes silvestres a partir de ferramentas moleculares”, explica Soraya. Não vão faltar espécies para experimentos, já que o Brasil possui a maior coleção de germoplasma de amendoim do mundo, criado pela Embrapa. São 80 espécies e mais oito em fase de descrição. Dessas, 67 são silvestres e originárias do Brasil. A intenção é criar sementes mais resistentes e tornar possível a produtividade sustentável em regiões com escassez de recursos naturais, como água.
Para a coordenadora da conferência, a diversidade de plantas silvestres brasileiras e o solo fértil do país, além de áreas para expansão da agricultura, fazem do Brasil um dos países com maior potencial para a produção de amendoins, que pode até ultrapassar a da soja. “É essencial que o Brasil seja um dos principais atores na produção de alimentos de qualidade. Temos todas as ferramentas para isso ”, diz Soraya.
Origem
O amendoim é uma planta originária da América do Sul, com provável centro de origem nos vales dos rios Paraná e Paraguai. As primeiras descrições do uso do grão revelam que ele era muito utilizado pelo índios brasileiros. No século 18, o amendoim foi introduzido na Europa. No século 19 difundiu-se do Brasil para a África e do Peru para Filipinas, China, Japão e Índia.
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